O desconhecido nos atrai e estimula. Durante minhas madrugadas de insônia e poesia, ao longo dos anos, sempre fui acalentado pelo cantar triste de uma ave que eu nunca avistara, e que de modo cadenciado transmitia sua longa lenta agonia. Nosso contato mais próximo havia sido através de um disco de Johan Dalgas Frisch, "Aves Brasileiras", lançado em 1981. Esta ave era o Urutau, cuja melodia única não deixa a quem o escuta indiferente, invocando tristeza, alegria, saudade, complacência, temor...
Seria assim: Huuuuuuuuuu... Huuuuuuuu... Huuuuuu...
O Urutau é uma ave noturna de rapina, também conhecido como Urutágua ou Mãe-da-Lua, sendo parente do Curiango; encontrado antigamente em todo o país, era bastante comum em nossa região: hoje com a destruição das florestas e matança generalizada está ameaçado de extinção. Alimenta-se de insetos, que são atraídos pelo odor característico exalado de sua boca, e possui os olhos de um amarelo vivo, muito fortes; seu poder de mimetismo é enorme, podendo passar horas seguidas em absoluta quietude esperando suas vítimas. A expressão Canto do Urutau significa, em certas regiões do país, sinal de alerta. Os caboclos, ao escutarem sua cantoria, julgavam-na atrativa de mau agouro.
Pois este solitário habitante da noite, guardião de nossos sonhos, conhecedor dos mistérios do luar e da escuridão, não é que veio perder-se aterrizando em plena Câmara Municipal de Matão, na av. Padre Nelson? Avisado pelo funcionário Cláudio, o fotógrafo Sêrgio Sabará chegou de imediato e realizou o inusitado flagrante. É uma alegria encontrar uma ave rara e famosa em plena cidade de Matão, que tem se mostrado acolhedora para com os animais selvagens, visto que além deste urutau, nos últimos dias foram encontrados escorpiões, cobras, lagartos tiús, raposas, macacos, pequenos roedores e inúmeras espécies de aves.
O último registro de Urutau numa rua de Matão foi feito pelo jornal O Boêmio no dia 13 de abril de 1999, quando o menino Nathanael Francisco de Araujo, filho de Manoel (Mané) e Angela, deparou-se numa manhã, ao sair para a escola, com um bicho estranho na árvore em frente à sua residência. Seria um antepassado desta ave que posou para as nossas lentes? O detalhe é que a fotografia de 1999 foi tirada pelo mesmo Sêrgio Sabará, autor da foto de 2012, e atento observador da natureza e conhecedor dos pássaros. A vida tem dessas coisas.
Texto: Eduardo Waack
Fotos:Sêrgio Sàbará
Texto: Eduardo Waack
Fotos:Sêrgio Sàbará
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